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Artigo 

Escritório é sinônimo de trabalho? Não mais.

Entenda como a arquitetura e as gerações estão interagindo.

Projeto da Free.Arq

Como adequar o ambiente de trabalho às necessidades dos indivíduos? Cabe a nós, arquitetos e líderes, estarmos sempre acompanhando os anseios das Gerações que estão por vir e transformar este “balaio de Gerações” em um ambiente com muita colaboratividade e sinergia.

Vamos fazer o projeto de um escritório? Mesas, cadeiras e um logotipo na recepção! Simples, não é? Pode ser que, num passado distante, isso tenha sido uma tarefa um tanto fácil e replicável por anos, porém, atualmente, os desafios são imensos! Como adoramos desafios, vamos conversar um pouco sobre essa área de atuação da arquitetura.

Antes de começarmos a discutir as possíveis soluções de arquitetura para escritórios, precisamos entender quais gerações estão atuando no mercado de trabalho e o que se passa na cabeça de cada um deles.

 

A longevidade tem possibilitado às pessoas continuarem atuantes em suas profissões por um período muito maior durante suas vidas. Com isso, temos a possibilidade de quatro gerações distintas estarem interagindo no mesmo espaço de trabalho. E quais gerações são essas?

 

A tabela abaixo, identifica cada geração atuante e, brevemente, descreve as suas principais características:

Tabela Geração Z - Y - X - Baby Boomers

Ao analisar a tabela acima, ficamos intrigados com ausência de informações sobre o tempo médio de permanência em cada emprego na Geração Z. Nessa geração, considerada a Geração da informação, não há informações a esse respeito?! Estranho! Então, fomos atrás e descobrimos o gráfico a seguir, elaborado pela professora Martha Gabriel, PhD, a partir de dados extraídos da Paysa / MobileMonkey, Inc. O levantamento considera as dez maiores empresas de tecnologia - onde há uma grande concentração dos jovens da Geração Z - e constata um alto índice de rotatividade nessas empresas. Há uma variação de 1.23 (Uber) a 2.02 anos (Facebook). Na sequência, voltaremos a falar mais sobre esse tema.

Tabela tempo de atuação

A partir das informações dessa tabela e desse gráfico, conseguimos extrair algumas palavras-chave que nos ajudarão a entender melhor todo o processo de (r)evolução do ambiente de trabalho. São elas:

- TECNOLOGIA

 

- COLABORAÇÃO

 

- ROTATIVIDADE

 

- EMPREENDEDORISMO

 

Vamos começar falando de TECNOLOGIA. Por muitos anos, durante a Geração X e os Baby Boomers, o desenvolvimento tecnológico ainda acontecia a uma velocidade muito baixa  - o primeiro computador foi inventado em 1954, e a internet começou devagarinho em 1969, porém ainda para fins militares. Ou seja, estamos falando de pessoas que trabalhavam com máquinas de escrever e computadores primitivos. Os escritórios, nessa época, demandavam de um grande volume de papéis e espaço para armazenamentos. As estações de trabalho eram grandes “baias”, em “L” ou em “U”, com armários, gaveteiros e bastante superfície de trabalho para acomodar o grande monitor de tubo, máquina de escrever, impressoras matriciais, telefone e papel... muito papel.

 

Abaixo, uma foto e um layout típico de estações de trabalho, que vigorou por mais de 30 anos nos escritórios e, por incrível que pareça, continua vigorando em algumas empresas.

Layout de estação de trabalho

Com o avanço da tecnologia, os equipamentos começaram a diminuir de tamanho e alguns se tornaram obsoletos. O cérebro virtual das empresas (servidores) começou a ter uma grande capacidade de armazenamento e, em conjunto com ações ambientais, reduziram significativamente o volume de consumo de papéis. Considerando que tudo estava reduzindo, nada mais coerente do que as estações de trabalho também começassem a diminuir de tamanho. Surgiram, então, os “mesões” ou “plataformas”, que são superfícies de trabalho retangulares distribuídas em linha por todo o open space. O gaveteiro, já começava a ser dispensado de forma gradual. E como definir o tamanho deste “mesão”? Isso é feito por meio de uma relação entre CONFORTO x HEADCOUNT – relação essa que gera muita discussão.

Abaixo, podemos observar um modelo de estação tipo “mesão”, que se configura de modo linear e replicável:

Layout de estação de trabalho

Será o “mesão” o modelo atual de estação de trabalho? Afinal, chegamos a um modelo eficiente e alinhado com a tecnologia atual, certo? Podemos dizer que é o modelo mais presente nos escritórios atuais. No entanto, o que estamos observando é que a tecnologia evolui rapidamente e as pessoas são impactadas pela tecnologia diariamente. A partir desse contexto, a estação de trabalho individualizada tem ficado em 2º plano. A evolução do cloud computing, permite que as pessoas trabalhem e cumpram suas tarefas, independentemente da sua localização física, pois o armazenamento e o compartilhamento das informações é feito através da tão incompreendida “nuvem”.

Para darmos continuidade nesse assunto, precisamos destacar a importância da COLABORAÇÃO. A possibilidade das pessoas trabalharem remotamente, por um tempo, foi recebida de forma fantástica, tanto pelas empresas como pelos funcionários. Os Millennials (Geração Y), que iniciaram essa fase do home office ou anywhere office, adaptaram-se muito bem a essa nova realidade. A geração X e os Baby Boomers, acabaram se adaptando de forma receosa. Já a Ggeração Z prefere se deslocar até o trabalho e colaborar com as demais pessoas que fazem parte do quadro de funcionários da empresa. De acordo com a pesquisa da Peldon Rose, extraída do artigo da jornalista Sara Bean, para a revista digital Workplace Insight, para a Geração Z, existe uma linha tênue entre trabalho e lazer. É uma geração que não tem uma casa para chamar de sua e busca no ambiente de trabalho tudo o que gostaria de ter em sua casa. E, por fim, é uma geração que anseia o convívio e a troca de conhecimento entre as pessoas de gerações distintas.

 

Essa realidade, motivou as empresas a atraírem seus funcionários para os seus escritórios. E como atrair quatro gerações distintas em um mesmo ambiente de maneira a se colaborarem de um jeito saudável e eficiente? As movimentações começaram da seguinte forma:

  • Baby Boomers e Geração X: atualmente em cargos de liderança (presidência / diretoria / conselho), para servirem de exemplo e direcionamento nas empresas, acabam por sair de suas grandes salas fechadas e exclusivas, migrando para open space, misturando-se e colaborando com as demais gerações.

  • Geração Y (Millennials): para que o escritório seja mais atrativo que o home office, criam-se espaços variados de trabalho colaborativo. Sofás, poltronas, phone booths, mesões rotativos e cafés com opções variadas de comidas e bebidas, por vezes subsidiadas pela própria empresa.

  • Geração Z: além das mudanças e adaptações das gerações anteriores, agrega-se a diversão no ambiente de trabalho. Área de jogos, descanso, dress code bem mais flexível, escritório pet friendly, acesso a natureza e luz natural, e ações que favoreçam a saúde mental e o bem-estar. Esta geração dá muito valor a possibilidade de escolher onde irá produzir, em um ambiente dinâmico e com opções variadas.

 

Observe abaixo, um corte esquemático de um projeto recente desenvolvido pela free.ARQ, no qual conseguimos consolidar em um único espaço, grande parte das mudanças descritas acima:

Layout de estação de trabalho da free.ARQ

Agora, vamos pensar um pouco pelo lado do empresário.  Por que investir tanto em um ambiente de trabalho, sendo que é um desafio reter os talentos? O gráfico apresentado no início deste artigo, sobre o tempo de permanência dos funcionários nas empresas de tecnologia, mostra uma grande ROTATIVIDADE naquelas empresas, o que justifica essa pergunta. E a resposta está no quadro comparativo das gerações. Criar um espaço descontraído, flexível, colaborativo, divertido e funcional, não significa que estamos atendendo todos os anseios das Gerações Y e Z (predominantes no mercado de trabalho atualmente). Observa-se que está no DNA dessas gerações, as seguintes características:

  • Mudança de emprego é uma rotina natural e a lealdade não é um problema.

  • Trabalhar para si mesmo e construir múltiplas carreiras.

  • O aprendizado é contínuo e, por vezes, autodidata.

 

Ou seja, a rotatividade é uma realidade, e é muito difícil buscar alterações nesse DNA. Alguns poderão até dizer: “aumente o salário e bonificações, que você reterá talentos”. Isso também não é regra. Outra pesquisa da Paysa, comparando as Top Tech Companies e o pagamaneto de bônus anual, mostra um pouco dessa realidade. Por exemplo, o Salesforce teve o maior bônus anual médio reportado de US$39.959, mas os funcionários ficaram em média apenas 23 meses na empresa. Enquanto que a Microsoft pagou um bônus anual médio de US$23.224, manteve os funcionários pelo maior período de tempo: uma média de 44 meses. Como pode ser observador no gráfico a seguir.

A partir dessas informações, fica claro que as empresas estão, sim, preocupadas em atender as necessidades de seus funcionários, independentemente do tempo de dedicação de cada um a sua empresa. Assim como as pessoas, as empresas estão vivendo o presente e remando junto na onda.

O exercício da criatividade e da inovação, favorece aos jovens a EMPREENDER. Começa, então, a nascer o ecossistema de startups, que acaba por revolucionar novamente o ambiente de trabalho. Vamos falar de modo breve sobre as startups, porque esse é um tema complexo e com conteúdo para vários artigos. Afinal, o que é uma startup? De acordo com Yuri Gitahy, investidor-anjo e fundador da Aceleradora, “...uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.” O termo “extrema incerteza” acaba por definir esse novo modelo de ambiente de trabalho e o empresário volta a se questionar: “Por que investir tanto em um ambiente de trabalho, se eu nem sei se o meu modelo de negócio dará certo?” De forma genial, começam a ser criadas as Incubadoras e Aceleradoras, com o intuito de abrigar e dar o suporte às startups, de treinamentos específicos a busca de aportes de capital (investidores). Em paralelo, se desenvolve-se um novo modelo de negócios para atender a essa demanda – o coworking.

 

O que é um coworking? Afinal, se eu não posso ou não quero (no momento) montar um escritório exclusivo e com o look & feel da minha empresa, por que não “alugar um escritório pronto”? Já existiam empresas que ofereciam esse tipo de serviço, como a Regus, que oferece escritórios compartilhados há mais de 25 anos, mas a demanda das startups, deu uma chacolhada nesse modelo de negócios. Basicamente, o público das startups consiste das Gerações Y e Z, com isso o ambiente de trabalho dos coworkings também deve atender às necessidades que já listamos anteriormente. A diferença entre um escritório individual e um coworking é que, nesse, o conceito do projeto está voltado 100% ao público alvo e não identifica a imagem das empresas no ambiente de trabalho, uma vez que o espaço é compartilhado entre várias empresas. Por outro lado, amplia-se o ambiente de colaboração e possibilita o famoso networking.

 

Um exemplo coworking, mundialmente conhecido, é o WeWork. Fundada em 2010, é uma empresa avaliada em mais de US$47 bilhões e já possui mais de 425 espaços compartilhados em mais de 30 países. Abaixo, fotos dos espaços WeWork, pelo mundo.

Coworking da WeWork

Agora, a pergunta é: O que está por vir? A velocidade da informação que fomenta o mundo, sempre nos deixará com essa pergunta na cabeça. De repente, o que está por vir, já veio enquanto eu escrevia esse breve artigo.

E uma outra pergunta se faz necessária: Como adequar o ambiente de trabalho às necessidades dos indivíduos? Cabe a nós, arquitetos e líderes, estarmos sempre acompanhando os anseios das Gerações que estão por vir e transformar este “balaio de Gerações” em um ambiente com muita colaboratividade e sinergia.

Ricardo Bormio
Ricardo Bormio
Arquiteto
CAU/SP - A52267-8
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CRÉDITO DAS IMAGENS: WeWork

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